Márcia Tiburi fala sobre QUEM SE IMPORTA
Assisti o documentário “Quem se importa” de Mara Mourão (2013). Todos que de algum modo “se importam” precisam assistir com urgência. Um desses trabalhos que só podemos elogiar tanto pela qualidade formal, quanto pelo conteúdo. Recomendo, ao mesmo tempo, que aqueles que se sentem de algum modo perdidos no mundo (alguém já se sentiu nessa situação?) e vivendo vidas que eles mesmos julgam sem sentido (será???), simplesmente corram para ver o mais rápido possível: http://www.quemseimporta.com.br/Trailer.aspx
Vale uma noite da semana; pode valer uma vida.
Cada um que assistir “Quem se importa” deverá inevitavelmente passar pela experiência de compreensão social que o filme promove. “Quem se importa” tem o poder impressionante de fazer diferença, de afetar a posição de cada um que o assiste. Ele consegue isso por meio de uma interpelação ética sobre o sentido de viver em comunidade, de se importar com os problemas do mundo, mesmo quando não se é diretamente implicado em algum tipo de sofrimento. O filme faz sentir e pensar ao mesmo tempo. Ele performatiza – produz uma ação – um sentimento de que alguma coisa de melhor é possível. E que essa coisa depende de nós: de criatividade, de liberdade, de vontade, de pôr em movimento a nossa capacidade de colaboração que as ideologias sempre abafam. Por fim, “Quem se importa” trata da capacidade de olhar e colocar-se no lugar do outro que anda esquecida em nossa época e que, quando aparece, muda algo em nós.
O poder do filme surge de seu conteúdo: pessoas do mundo todo que aprenderam a se autodenominar pelo termo “empreendedores sociais” contam suas ideias. Gente que inventou coisas socialmente muito simples e, talvez por isso mesmo, altamente revolucionárias, democraticamente revolucionárias. Gente muito prática e, ao mesmo tempo, muito idealista – no bom sentido – , gente que não se entregou nem à esquerda nem à direita, nem à pobreza, nem à burguesia, nem ao capitalismo, nem ao Estado. Gente que quis construir algo de concreto para ajudar a melhorar a sua própria vida e a de outras pessoas, por acreditar simplesmente que a vida – social e coletivamente falando – podia ser melhor. Gente que não estigmatiza. Gente que acolhe, que olha, que percebe. Que pensa diferente.
Pessoas tais como Muhammad Yunus, do Grameen Bank, de Bangladesh, Nobel da Paz de 2009 que criou a primeira linha de microcrédito no mundo, a médica carioca Vera Cordeiro, que criou a Associação Saúde-Criança Renascer em 1991, Wellington Nogueira, fundador do Doutores da Alegria, e vários outros mostram ali as suas ideias.
O documentário de Mara Mourão é também uma grande ideia: a ideia de reunir tanta gente com tantas boas ideias ajudando-nos a saber que essas histórias e suas potências emancipatórias existem. Ajudando-nos a produzir esse “contágio” inteligente, prático e profundamente solidário.
Ficou bonito, ficou esteticamente bacana, ficou eticamente intenso, ficou politicamente imprescindível.
Mara Mourão, obrigada por nos ajudar a ver mais longe.
http://filosofiacinza.com/2013/08/19/quem-se-importa-de-mara-mourao/